leio no vento um inquieto desassossego.
Leio no vento um medo de cerzir as palavras
que chamei para colorirem as tardes que passam
soltas no rio que se perdeu da foz.
Havia sempre no vento como um murmúrio
um barco a navegar na espuma das lágrimas
e um vazio de tragédia em cada silvo
em cada rajada de voz.
A vida não é bem o meu futuro.
Que um dia deixarei a liberdade
e a guerrilha e outras bandeiras de existir
e voltarei ao livro dos profetas
às enxadas da memória que cavam
cavam o tempo até se quedarem
nas leiras dos meus segredos.
O meu pai sabia os trilhos do destino.
O meu pai foi construtor de viagens e de sonhos
e depôs tudo de si na arca dos meus anseios.
Há um céu nos olhos de quem me soletra o poema.
Tem de haver. E eu apenas vos deixo uma precária felicidade
um poema onde se mora e tudo mora
desde o céu que há por exemplo nos teus olhos
ao meu pomar de amargos frutos.
A vida não é bem o meu futuro.
Que bom voar o céu pelos teus olhos.
O vento ainda solta ao vento os seus caminhos.
Deixem-me o esplendor das alvoradas
a música dos regatos e o desgarrar das cotovias.
Por breves instantes
que de longe me chamam e me dizem
que é urgente interromper o sonho
por motivos de força maior.
António Lúcio Vieira
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário